sexta-feira, 24 de junho de 2011

ESTAFA PROFISSIONAL

Estafa profissional pode ter danos irreversíveis
Conhecida como Síndrome de Burnout, a doença atinge grande número de trabalhadores e pode causar traumas
Reportagem Marcela Varasquim
Edição Rodrigo Batista
MARCELA VARASQUIM
Segundo o psicólogo Cloves Amorim, a doença pode ser tratada com acompanhamento clínico e com consultoria empresarial
Segundo o psicólogo Cloves Amorim, a doença pode ser tratada com acompanhamento clínico e com consultoria empresarial

Para você, trabalhar com pessoas exige esforço? Você sente que se tornou insensível depois do trabalho? Sente-se nos limites de suas forças? Caso suas respostas a essas perguntas sejam positivas, sinal de alerta: você pode estar com estafa profissional, conhecida pelos médicos como Síndrome de Burnout – termo que significa “queimar-se por dentro”. Dados divulgados em recente pesquisa realizada pelo instituto ISMA-BR (International Stress Management Association), revelaram que 30% da população brasileira sofrem de desgaste excessivo na jornada de trabalho.

Segundo o psicólogo Cloves Amorim, um dos maiores perigos no diagnóstico da síndrome está no fato de ela ser pouco conhecida e facilmente confundida com a depressão. “Ambas enfermidades apresentam quadros de comorbidade, ou seja, possuem sintomas muito parecidos”, alerta. A doença é mais comum em trabalhadores ligados à saúde e à educação, e ocorre principalmente entre o 5º e o 15º anos de trabalho. “Até o 5º ano, as pessoas estão motivadas e depois do 15º, conformadas”, conta.

A ex-secretária executiva Rosélia Santos é uma das muitas pessoas afetadas pela doença. Ela conta que num dia, durante o trabalho, sentiu fortes dores no peito. Ao procurar ajuda profissional, foi erroneamente diagnosticada com depressão. “Comecei a fazer tratamento de depressão e melhorei, mas foi uma melhora aparente”, afirma. A descoberta da Síndrome de Burnout se deu por acaso, quando viu na TV uma reportagem sobre a doença e se identificou, procurando em seguida ajuda adequada.

O passo a passo da síndrome

As pessoas que sofrem de estafa podem passar por três fases da doença. Na primeira, o esgotamento físico e mental com relação ao trabalho é grande. “É o sentimento de não dispor de energia, de estar acabado”, explica Amorim. Quando esses sintomas passam despercebidos, a pessoa passa a ter atitudes diferentes das que costuma ter, e começa a tratar colegas de trabalho com cinismo e ironia. “Tanto que esta síndrome já foi chamada por um tempo de Síndrome do Cinismo”, diz o psicólogo. No estágio mais avançado da estafa, são percebidos sentimentos de insatisfação e baixa auto-estima, que fazem o indivíduo chegar ao ponto de abandonar o emprego.

De acordo com a pesquisa da ISMA-BR, 55,8% dos entrevistados atingiram níveis moderados ou graves de esgotamento físico e mental. Outros 55,8% apresentaram quadros de despersonalização, que caracterizam as mudanças de comportamento e atitudes do trabalhador com seus colegas de serviço e pessoas no meio profissional. Já em 23,4%, foram verificados indícios de baixa realização no trabalho.

Os traumas causados

Rosélia nitidamente atingiu as três fases da síndrome. Ela chegou ao limite de suas forças dentro do trabalho e abandonou o emprego de secretária executiva. Segundo ela, desentendimentos com funcionários e a perda da própria identidade dentro do emprego ajudaram a tomar essa atitude. “Não sabia mais se eu era o que os outros falavam de mim, ou o que sempre fui”, alega. Hoje, mesmo depois de seis anos afastada do trabalho, ela ainda se vê incapacitada de entrar em um escritório. “Não posso mais entrar em lugares que tenham mesa de escritório. Passo mal”, diz.

Mas a Síndrome de Burnout não está restrita aos trabalhadores. De acordo com Amorim, o mal pode ocorrer até com estudantes e desempregados. Este foi o caso de Anna Maria Tavares, que no ano de 2008 sofreu de estafa em função do curso pré-vestibular. A jovem diz que passava mal durante algumas aulas. “Sentia cansaço, vertigem e ânsia. Esses sintomas todos, porém, sumiram após o término do cursinho”, afirma. Hoje, Anna Maria confessa não estar preparada para enfrentar novamente a sala de aula. “O pesadelo foi tamanho que hoje não iria ao cursinho de novo nem se me oferecessem bolsa integral”, alega.

Quem viveu a mesma situação de esgotamento relacionado às atividades que realizava foi a vendedora Viviane Gonçalves Ferreira. Segundo ela, o que mais motivou o abandono do emprego foi a rivalidade entre as pessoas da loja de brinquedos onde trabalhava. “Eu não estava cansada com a jornada de trabalho, mas sim com o ambiente inóspito em que me encontrava”, explica. Há um mês afastada da empresa, hoje ela já ocupa cargo de vendedora em uma loja de sapatos, e assume estar mais bem posicionada em relação ao emprego anterior.

Rosélia, que após abandonar o emprego de secretária executiva procurou outro e também se demitiu, hoje assume que não é mais capaz de trabalhar. Ela aconselha as pessoas a darem devida atenção ao que sentem. “Peço que as pessoas tomem consciência, prestem atenção, porque a gente não percebe quando está sendo acometido por este mal”, finaliza.

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